Movimentos sociais de Mato Grosso estão, há dois meses, tentando sensibilizar o Governo Maggi a convocar a Conferência Estadual de Comunicação que vai preceder a nacional, já garantida pelo Governo Lula para dezembro deste ano. Pela primeira vez na história do país, a sociedade civil organizada, empresários e governo irão discutir sobre as distorções na mídia brasileira. Em nível nacional, os coletivos populares vêm realizando debates, cursos de formação, audiências públicas e conferências estaduais e municipais, criando um ambiente preparatório para a I Conferência Nacional de Comunicação (Confecom).
A Comissão Estadual Pró-Conferência de Comunicação já teve audiência como secretário interino de Comunicação, Onofre Ribeiro, e por ofício requereu audiência também com o secretário-chefe da Casa Civil, Eumar Novacki. Mas nenhum dos dois deu retorno. Nos bastidores, já se sabe que há a intenção de Blairo Maggi em realizar a conferência no estado. Mas nada oficial ainda.
“Discutir os meios de comunicação é fundamental, porque sem uma imprensa democrática, que seja de todos realmente, teremos sérias dificuldades, como as que já temos hoje, para criarmos um ambiente de justiça social no país”, afirma Dafne Spolti, representante do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade Federal de Mato Grosso.
Essa conferência trará à luz problemas graves, como o uso político da mídia, e os excessos publicitários. Propagandas indiscriminadas, para o Conselho Regional de Psicologia (CRP), por exemplo, adoecem a população, que fica emocionalmente escravizada a uma idéia de sucesso que não corresponde ao mundo real e sim aos interesses do capital, que tem no consumo sua alavanca. Crianças vivem o drama de não poderem ter brinquedos caros e mulheres assumem uma postura de baixa auto-estima por não acompanharem o padrão estético propalado.
A intenção é dar visibilidade também ao fato das concessões de rádios e TVs serem públicas, portanto os concessionários não são donos dos meios de comunicação e sim exploram o serviço, precisando assim prestar contas à sociedade brasileiras sobre a programação que exibem o padrão estético propagado.
O uso político e religioso da mídia também estará na pauta da Confecom. Quanto ao uso político, já há diversas iniciativas rechaçando isso. Sobre a programação religiosa, a comissão pró-conferência entende que isso deve ser discutido, sem ferir o direito constitucional de ter fé. Acredita-se, no entanto, que há um excesso de religiosidade das rádios e tevês em detrimento de uma escassez de programação educativa.
“Os meios de comunicação são importante instrumental de formação do povo, ou deformação. Não podem, portanto ficar nas mãos de uns poucos. Na verdade, cerca de 11 famílias dominam esse setor no Brasil. E reproduzem o discurso burguês. Ao tratar do negro, da mulher, da criança, do pobre, não o fazem com o viés de cada uma dessas comunidades culturais, mas sim em favor da manutenção do status quo”, reflete a presidente do Sindicato dos Jornalistas de Mato Grosso, Keka Werneck.
Há pelo menos 10 anos, a população brasileira se articula para cobrar debate sobre os meios de comunicação. Para se ter uma idéia dos entraves que existem nesse campo, as concessões públicas, no Brasil, nunca foram questionadas, nem muito menos houve punição a concessionários irregulares.
Há um entendimento geral de que o assunto não é interesse apenas dos que lidam nas comunicações. Tanto é que os movimentos de democratização são formados por jornalistas, psicólogos, movimento negro e LGBT, movimento de mulheres e de sem-terra, professores, rádios comunitárias, estudantes de jornalismo, e outros.
As reuniões da Comissão Estadual Pró-Conferência são realizadas no Instituto de Linguagens da UFMT, toda quinta-feira, às 18h30h. Para mais informações acesse: www.cepc-mt.blogspot.com / www.proconferencia.org.br; encaminhe e-mails para proconferenciamt@gmail.com; ou ligue para os telefones 3025-4723 / 9223-2494.
Nenhum comentário:
Postar um comentário