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9 de fev. de 2010

A ESTUPIDEZ ESTÁ NO AR, por Roberto Boaventura


Há alguns dias, recebi por e-mail uma dessas correspondências que os amigos julgam que merecemos e, por vezes, precisamos ler, seja por qual motivo for. Em geral, penso não merecer e nem precisar de tantas mensagens; por isso, só abro aquelas enviadas por pessoas próximas e/ou por quem tenho muita consideração. Caso contrário, o “delete” do teclado é solene e imediatamente acionado.


Pois bem. A correspondência a que me referi trata-se de uma composição poética, na forma de cordel, intitulada “Big Brother Brasil”. O cordelista é Antônio Barreto, natural de Santa Bárbara-BA; atualmente, ele reside em Salvador.


Como é sabido, o poema de cordel – mais comum no Nordeste brasileiro – recebeu esse nome por conta de seus autores pendurarem em cordões, nas feiras livres, principalmente, os textos que produzem. Hoje, eles também já circulam pelos cordões invisíveis da internet. Sinais dos tempos! Em geral, esses poemas são longos e (re)contam histórias e/ou tencionam a realidade vivida. Por conta da formação religiosa da maior parte dos cordelistas não é raro nessas composições um toque de moralismo cristão.


A sátira ajuda muitas vezes a marcar a ironia de muitos desses poemas. Quanto à forma do cordel, há variação, mas com predominância de elementos que caracterizam o lado mais popular das composições poéticas. Nesse sentido, o poema em pauta, de vinte e cinco estrofes, é composto por versos conhecidos como “redondilha maior”; ou seja, versos de sete sílabas métricas, que nem sempre coincidem com as sílabas gramaticais. Cada estrofe também apresenta sete versos. A presença da rima, indispensável ao cordel, além de marcar o ritmo, ajuda na memorização do texto.


Mas afinal o que pensa o poeta popular sobre o BBB? À resposta, transcrevo a primeira estrofe do poema. Ei-la: “Curtir o Pedro Bial// E sentir tanta alegria// É sinal de que você// O mau-gosto aprecia// Dá valor ao que é banal// É preguiçoso mental// E adora baixaria.”


Perfeito. Desde a primeira edição do BBB, pus-me a pensar no papel de seus apresentadores. Mesmo não ignorando os altos salários que eles recebem, quando o Sr. Pedro Bial começou a apresentar o programa, lamentei que necessitasse daquilo. Afinal, bem ou mal, na própria Globo, ele já foi um jornalista correspondente internacional durante anos. Sua base de atuação era Londres. Hoje, é deprimente vê-lo apresentar aquilo.


É claro que para ser um correspondente internacional está longe a necessidade de uma pessoa vir a ser um intelectual. Todavia, um ignorante não dá conta da tarefa; afinal, além de ter de dominar outras línguas é mister um certo conhecimento político, econômico e sociocultural de povos diversos. Isso demanda leituras e poucos brasileiros são os que têm essas oportunidades. Bial a teve. Por isso, a indignação do cordelista Barreto é a mesma que tenho em relação à figura desse apresentador, em especial.


Mas nossa indignação vai além. Estamos igualmente preocupados com o futuro das gerações que aprendem a apreciar banalidades. Na TV, e na mais influente emissora, esse tipo de programa funciona como momento de educação às avessas. Nesse sentido, o cordelista Barreto é outra vez feliz ao dizer: “Esse programa da Globo// Vem nos mostrar sem engano// Que tudo que ali ocorre// Parece um zoológico humano// Onde impera a esperteza// A malandragem, a baixeza:// Um cenário sub-humano.”


Em outra estrofe, depois de já ter chamado ironicamente o Sr Bial de “professor”, o cordelista diz ainda: “Isso é um desserviço// Mau exemplo à juventude// Que precisa de esperança// Educação e atitude// Porém a mediocridade// Unida à banalidade// Faz com que ninguém estude.”


E assim, “tudo por dinheiro”, vamos ensinando aos jovens o que há de mais sórdido nas relações humanas. Pior: um pouco em nome do politicamente correto, a cada edição do BBB o nível consegue descer um degrau. A continuar nesse ritmo de queda, a estupidez irreversível é o que nos restará. E ainda há quem chame esse povo de feliz e enxergue futuro numa juventude que recebe o que há de pior na educação e na cultura.


Roberto Boaventura da Silva Sá é Dr. em Jornalismo/USP. É Prof. de Literatura da UFMT

E-mail: rbventur26@yahoo.com.br

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá tudo bem? Meu nome é João Darque Estevez de Moraes, sou músico e jornalista prático, tenho experiência
com público geral, adoro microfones e filmadoras, pois trabalhei com shows durante 20 anos, tenho 40 anos e muito desejo de
trabalhar como repórter nas TVs de Cuiabá, ou seja, nas TVs de Mato Grosso.
Clica nos links abaixo, e assista os vídeos que elaborei como teste.

http://www.youtube.com/watch?v=MpS_OLUHl3w

http://www.youtube.com/watch?v=TMfrfZYRLsw

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