'Resolvi fazer o que aconselhamos nas matérias', diz Ranniery, sobre o processo contra a TVCA
O jornalista Ranniery Wanrhawtt Azeredo de Queiroz, 35 anos, atualmente assessor
de imprensa do Tribunal de Justiça de Mato Grosso, fez o que muita gente já
pensou um dia, mas não teve coragem: processou o patrão. E, neste caso, o
patrão dele era nada menos que a TVCA, afiliada da Rede Globo em Mato Grosso.Ranniery sofreu um acidente, teve que ficar de repouso e, devido ao repouso, engordou. Ele afirmou na justiça que, por estar acima do peso, não servia mais para a
emissora, sendo achincalhado rotineiramente na empresa.O jornalista processou a TVCA por assédio moral. Agora a Justiça manda que a emissora pague R$ 25 mil de indenização a ele. A decisão é do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de Mato Grosso. Em primeira instância, o juiz teve outro entendimento, negando tudo, mas o TRT mudou o rumo do processo. Ainda cabe recurso a TVCA.
Ranniery estudou Jornalismo no IVE-Faculdades Integradas de Várzea Grande, com a intenção de “mudar o mundo”, e Direito na UNIC- (Universidade de Cuiabá).
Cuiabano, nascido e criado, separado, pai de dois filhos, Konrado, 19, e Artur, 4, ainda se recupera desses momentos difíceis, entre a decisão de não se calar e o ato em si de questionar, na justiça, o quarto poder. Leia a entrevista.
Por Keka Werneck
Quando você optou pelo jornalismo, quais eram suas intenções?
Mudar o mundo. Pensava em transformar a sociedade com matérias educativas e denunciar abusos. Ainda que fora da mídia diária, a vontade de participar e cumprir os deveres de cidadão ainda persiste em mim. É algo que todos os profissionais de nossa área deveriam cultivar e não desistir do espírito colaboracionista.
O jornalismo é uma profissão difícil? Por quê?
Difícil, pois temos que enfrentar primeiro o jogo de interesses dentro das empresas de comunicação. Esse jogo de interesses é, com muita dificuldade, aquebrantado por veículos menores, sem compromissos com patrocinadores, políticos, grupos em geral. Ainda assim, é uma profissão prazerosa, quando vislumbramos bons resultados ocasionados por matéria produzida com interesse social.
Você defende a obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo ou não?
Sim. O bojo das técnicas proporcionadas pelas aulas teóricas, assim como a leitura obrigatória de obras que ampliam a consciência, ajudam a combater a dinâmica a que somos submetidos diariamente. Muito embora eu tenha trabalhado com pessoas sem o diploma de jornalismo, e que se sobrepuseram em decorrência de serem formadas em outras áreas e muito aplicadas em nossa ciência.
Por que você resolveu processar a TV Centro América?
Após 10 anos de trabalho árduo e dedicação exclusiva, obtendo excelentes resultados, sobretudo para a empresa, ser achincalhado, como fui, é inadmissível. Resolvi fazer o que aconselhamos em nossas matérias. Estimulamos a busca de mecanismos que diminuam desigualdades e reparem injustiças. Vejo o Judiciário como única via.
Você acha que as pessoas já sabem o que é assédio moral? O que falta saber sobre isso?
A sociedade não sabe o que é, principalmente as modalidades praticadas. Não creio em exageros nas inúmeras formas de assédio e sim que muitas pessoas ainda vivem sob os auspícios de um pseudo-feudalismo, uma espécie de escravatura, muito parecida com aquela que nos obriga a ter 10 quilos a menos. Os assédios psicológico, moral e sexual geram preocupação, ameaça, humilhação ou vulnerabilidade, minando a estima, provocando stress e doenças. Por ser algo tão abrangente é que ainda falta mais esclarecimento. Por experiência própria, indico que o leitor verifique se já não passou por situação vexatória proporcionada por pessoa que esteja em patamar superior hierarquicamente ou que esta pessoa já não tenha podido evitar que você passasse por tal situação de perseguição, praticada por outro.
A televisão é um meio de comunicação fantástico. Por isso mesmo, o que deve aparecer na tela?
Toda a criatividade deve ser centrada em programas educativos. É possível manter audiência e subliminarmente defender valores e incitar ações corretas. Vejo como excessos a liberalidade que induz o consumismo, seja de produtos ou comportamentos.
Qual o melhor programa da televisão brasileira e o pior?
Infelizmente, os melhores são exibidos na TV paga. Em canal aberto, cito o quadro do Caldeirão: Soletrando. De inteligente sistemática, que atinge grande público, sobre algo importantíssimo: nossa língua. Quanto ao pior... Temos muitos. Em geral programas que consistem na exposição das mazelas humanas. Aqueles fúteis, que tentam nos distrair do que realmente é importante, fazendo isso das piores formas.
Você defende o voto obrigatório ou é contra? Você gosta de votar? Por que?
Defendo o voto obrigatório até reeducarmos a sociedade. Hoje o conceito de política se confunde com o emaranhado de confabulações. Assim que tivermos a tranquilidade de escolhermos nossos representantes sem pequenas trocas, poderemos determinar o voto livre. Desta maneira o número de votantes manterá patamares atuais e os resultados serão melhores. Parece utópico, mas, se observarmos bem, a humanidade vem passando por transmutações há pouco tempo impensadas. Eu adoro votar.
Festa ou sossego do lar?
Hoje sossego do lar!
O que o jornalismo trouxe de positivo para sua vida?
Me mostrou o mundo, as pessoas. O jornalismo ensina a cada pauta. É um implemento de maturidade, muitas vezes proporcionado pelo constante contato com pessoas e situações distintas de nossas vidas, que muitas vezes nos levam simplesmente a refletir.
O que é ética?
É colocar em prática os bons ensinamentos e posturas diante de situações que envolvam direitos e deveres de outrem e da sociedade em geral, sobretudo, princípios e respeito.
Antes de mais nada, o que precisamos fazer?
Nos unir em prol dos bons objetivos. Agirmos naquilo que nos diz respeito. A inércia é o alimento da estratosfera do vil.
Um comentário:
Entrevista interessante, sobremaneira por causa da informação sobre a Tv Centro América.
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