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29 de ago. de 2010

Sinal de novidade



Por Por Lara Berol

Com a chegada definitiva do HDTV , muda a maneira de se fazer e assistir televisão

A transmissão analógica de TV já tem data para acabar. Segundo o site oficial da TV digital brasileira, www.dtv.org.br, a partir de 29 de junho de 2016 todas as emissoras do país devem estar alinhadas com a nova tecnologia, para que nesse dia todo o país comece a receber somente o sinal digital. Até lá, fica o desafio para que as emissoras brasileiras invistam em tecnologia e encontrem boas soluções para as novas plataformas de conteúdo.

Entretanto, apesar da data já anunciada para o desligamento da transmissão analógica, o governo brasileiro determinou que todas as emissoras devem possuir estrutura suficiente para transmitir o sinal digital para todo o país até o final de 2013. Altas cifras já foram gastas nessa corrida: aparelhos, retransmissores, antenas, estruturas físicas de estúdios e ilhas de edição. Sem falar na capacitação dos profissionais que irão operar essa tecnologia. Tudo isso, para garantir os ganhos em tempo e qualidade.

Por aqui, o sinal digital já causou rebuliço nas grandes emissoras. A Rede Globo, por exemplo, apresentou as novidades no último Painel Globo de Tecnologia. No evento, Fernando Bittencourt, diretor da Central Globo de Engenharia, mostrou as possibilidades que o sistema Integrated Services Digital Broadcasting Terrestrial (ISDB-T) poderá proporcionar aos telespectadores.

Negócios e interatividade
O que de melhor, além da imagem em alta definição, o sistema digital eleito para o Brasil proporciona é a interatividade. "Isso é o que vai nos aproximar dos telespectadores, é a grande mudança da TV", revelou Bittencourt. Essa possibilidade do diálogo entre emissora e telespectador se mostra como uma das mais lucrativas e divertidas ferramentas do padrão adotado pelo governo brasileiro. Definitivamente, o jeito de se fazer televisão vai mudar, e muito!

Durante a exibição de uma corrida de Fórmula 1, por exemplo, ou de um jogo de futebol, os telespectadores poderão acessar, pelo controle remoto, um menu para obter informações sobre tabelas, competidores e resultados. Para acessar esse menu, ele precisará ter uma TV já com o conversor embutido, ou então um conversor (set-up-box) que adapte a TV analógica para a recepção do sinal digital.

A Band terá menus interativos na Fórmula Indy trazendo informações sobre a competição e os pilotos que disputam a prova. "Outra oportunidade em que pretendemos disponibilizar o conteúdo interativo são as eleições", comenta Fernando Nogueira, vice-presidente da Band.

A Rede Record também já faz seus estudos. "Ao longo desse último ano, intensificamos nossas ações relativas ao desenvolvimento de aplicações interativas para os principais programas, bem como comprovamos com sucesso a atualização dos receptores (settop-boxes) pelo ar, através do sinal digital emitido pela emissora", explica José Marcelo Amaral, diretor de Operações e Engenharia da Rede Record.

Com a difusão das broadband tv´s - os televisores com conexão à internet, dispositivos móveis e celulares, cada vez mais aptos a receber os diversos tipos de conteúdos - aumentam as perspectivas de novos negócios. Afinal, uma TV conectada à rede tem a possibilidade de acessar infinitos canais em todo o mundo. Isso proporciona uma abertura para que as emissoras possam distribuir conteúdos compatíveis para essas plataformas também. "Se a pessoa perdeu o capítulo da novela de ontem, poderá assistir hoje. É só adquirir o vídeo por meio do menu que aparece na TV broadband", prevê Bittencourt. A Globo já prepara um portal para comercialização de conteúdo para as broadband tv´s.

O conteúdo para os dispositivos portáteis e móveis pretende engrossar os negócios. "As grandes apostas se concentram na comercialização de vídeos para celular", explica José Chaves de Oliveira, diretor de engenharia da TV Cultura. Segundo ele, os vídeos para esses dispositivos não demandam grandes esforços e têm bom retorno.
Com a chegada dos tablets - equipamentos que comportam conteúdo mais elaborado que os celulares, sendo o iPad o mais famoso - abriu-se outra oportunidade. A Globo, por exemplo, já aguarda a liberação do aplicativo pela Apple. Outra aposta da emissora é transmissão do sinal em TVs nos ônibus de linha de algumas cidades. A novidade já pode ser vista em São Paulo e no Rio de Janeiro. Na cidade de São Paulo, já existem 300 ônibus com esses televisores, sendo que 30 estão transmitindo a programação ao vivo. Para escutar a transmissão, basta o usuário sintonizar uma estação FM por meio de qualquer rádio, inclusive o do celular.

Até o ano que vem, quatro mil veículos em São Paulo poderão receber o sinal digital. O projeto é uma parceria do Grupo Bandeirantes e da Prefeitura. O serviço deve atender oito milhões de passageiros que, em média, passam cerca de duas horas por dia nos veículos.

Cobertura
Desde 2 de dezembro de 2007, quando foi feita a primeira transmissão com sinal digital no país, o número de cidades que já recebem o sinal aumenta a cada dia. "Só no mês de junho, a Band iniciou a transmissão para mais 13 praças, totalizando hoje, 21 cidades cobertas pelo sinal", conta o vice-presidente da emissora, Fernando Nogueira. Segundo ele, já foram investidos mais de R$ 90 milhões na implementação do sistema digital, pois o Grupo tem planos para levar a tecnologia a outras cidades até o final do ano.
A Rede TV!, já transmite o sinal em HD para todas as praças. É a única no país a cobrir a totalidade das emissoras. "Somos uma TV com DNA digital", atesta Kalled Adib, superintendente de operações da emissora.

A Globo conta, hoje, com mais de 30 emissoras que transmitem o sinal digital. Até o final do ano, há a expectativa de que esse número chegue a 50 emissoras. Outra novidade que vai agregar números à cobertura digital da emissora é um novo dispositivo recém-lançado no mercado chamado "TV Rural". O experimento pioneiro da TV Globo consiste em um conversor de TV digital com foco para o público que vive em áreas rurais. "Nessas regiões o sinal chega através de antenas parabólicas. Com a TV Rural, será possível pegar o sinal HD da Globo e também de qualquer outra emissora que emita o sinal via satélite", explica Bittencourt.

A Record já transmite o sinal em HD em 13 cidades, entre elas São Paulo, Rio de Janeiro e Goiânia. Em breve, pretende estender o serviço a todas as capitais e a algumas cidades. "Os telespectadores esperam por mais conteúdo em alta definição. Do nosso lado, há um esforço muito grande para isso acontecer", diz Amaral.

Jornalismo ágil
A tecnologia em constante evolução traz à tona outra discussão. Os processos irão sofrer mudanças e, com isso, o modo de se fazer jornalismo. A possibilidade de acelerar a produção é visível. "Tudo será mais dinâmico. Iremos produzir muito mais", projeta o diretor de engenharia da Cultura. A produção digital permite solucionar problemas e minimizar custos; caso dos cenários, que poderão ser virtuais, poupando o tempo de construção e gastos. Já existem equipamentos capazes de captar uma imagem e reproduzi-las em tempo real pela internet, criando-se cenários virtuais. "O tempo entre captação, edição e reprodução cairá pela metade", estima.

Outro processo que ganhará velocidade é a possibilidade da edição não linear. "Ela traz ganhos muito expressivos de qualidade e produtividade, o que torna o processo de produção de conteúdo mais ágil", aposta Amaral, da Record. Os papéis do repórter e do repórter cinematográfico não ficarão restritos às suas atuais funções. Após a captura de imagens, o repórter já poderá fazer uma pré-edição do material e enviar também os offs. "A matéria vai chegar quase pronta para o editor, que vai eventualmente corrigir algo", relata Chaves. Para ele, dentro em breve, toda essa velocidade de produção será refletida na internet. "Sabemos que grandes portais se interessam por conteúdo exclusivo. Poderemos firmar parcerias e fornecer aquilo que for 'excedente', mas por enquanto são só ideias", ressalva.

Desafios e polêmica
A popularização do sistema e a facilidade ao acesso a essa tecnologia é o grande entrave da TV digital no país. Apesar das campanhas das emissoras e do governo para incentivar a compra de conversores e a fabricação de televisores com set-up boxes embutidos, a audiência medida de receptores de HDTV ainda é baixa. "Certa parte do público ainda não sente a diferença entre a transmissão HD e a analógica, ainda é preciso criar esse hábito", justifica Chaves, da TV Cultura.

Um dos desafios que emperram o processo é o crescente número de assinantes de TV via cabo. Segundo a recente pesquisa Pay TV Pop, do Ibope Mídia, o crescimento na TV por assinatura como um todo, entre 2009 e 2010, foi de 40%. Só a classe C dobrou sua participação que, em 2009, era de 6%, e chegou a 12%, em 2010. Outro dado preocupante é que das mais de 17 mil pessoas entrevistadas em março desse ano, em 11 capitais brasileiras, a tecnologia HDTV ainda é desconhecida por 20% dos que têm TV paga.

A escolha pela TV fechada acaba criando mais um impasse: o tipo de middleware (sistema que possibilita a interatividade pela TV digital) que a TV paga utiliza é diferente do sistema adotado pelo Brasil. É um middleware aberto, o Ginga, desenvolvido a partir de pesquisas conjuntas de entidades do país. A TV Globo tenta uma negociação junto ao Fórum SBTVD para uma harmonização entre os softwares. Com isso, não haveria divergência nos padrões e o sinal digital brasileiro ganharia mais espaço. Mas até lá, continuamos assim.

A discussão não para por aí. Assim como os celulares, que se atualizaram quando migraram da tecnologia CDMA para a digital, chegou a hora da televisão. Porém, enquanto os celulares já estão caminhando há algum tempo nessa plataforma, a televisão busca conhecer por onde irá trilhar. "Os celulares da atual geração acessam a internet, têm capacidade de executar inúmeros conteúdos e tipos de arquivos, enquanto a capacidade para a TV ainda é limitada", compara Chaves. Segundo ele, a rapidez com que aconteceu a atualização dos celulares se deve a facilidade para adquirir um novo e mais moderno aparelho, por um custo que não se compara ao de um televisor. "A rotatividade é muito maior, o que amplia a capacidade de inovar e testar novos aplicativos", justifica.


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Em outra dimensão

O 3D, recurso que já conquistou a calçada da fama no cinema, testa seu poder de popularidade nas transmissões da TV aberta. Porém, não encontra total apoio dentro das emissoras. "Cremos que o 3D vai ficar restrito a alguns nichos, mas ainda estamos testando essa possibilidade. De qualquer forma, enquanto o obstáculo físico dos óculos não for superado, dificilmente o formato 3D se encaixará na programação de massa", opina Bittencourt, da Globo. "Para se conseguir um conteúdo com perfeição técnica é preciso muito investimento e tempo, o que na TV aberta, ainda é pouco", acrescenta Chaves, da TV Cultura. Lembrando que o telespectador só conseguirá assistir um programa em 3D se tiver um conversor para isso, além dos óculos especiais. As TV´s com essa tecnologia acabam de chegar ao mercado. Marcas como Samsung, LG e Sony oferecem modelos que custam de R$ 6 mil a R$ 16 mil - aparelhos de 40 até 65 polegadas.

A Globo transmitiu a partida Brasil X Portugal por meio de cabo em 25 salas de cinema do Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Brasília, Belo Horizonte, Porto Alegre e Salvador. A experiência sensorial arrancou suspiros da plateia, mas não passou de teste. Quanto ao modelo de negócios, Bittencourt, diretor de engenharia da Globo, ainda considera uma "incógnita", já que a tecnologia deve passar por diversas adaptações até completar o período de maturação.

Alguns canais pagos já transmitem em 3D, mas têm grades de programação com conteúdo específico, que beneficia o uso da tecnologia. Em janeiro desse ano, a DirecTV anunciou um possível acordo com a Discovery Communications, a Sony e a Imax, sobre a formação de uma empresa conjunta para lançar um canal em 3D, em 2011, utilizando seus filmes e programas de TV, que transmitiria 24 horas por dia. O canal de esportes ESPN, propriedade da Walt Disney Company, se antecipou e já transmitiu as partidas da Copa Mundo em 3D. No Brasil, a única emissora que já transmite sua programação em HD e 3D simultaneamente é a Rede TV!. "Nós apostamos nessa tecnologia, sim! Deixamos o telespectador livre para que ele escolha que tipo de conteúdo quer ver em 3D", comenta Adib, superintendente de operações da emissora. Sua primeira transmissão em 3D aconteceu em maio deste ano, com a transmissão ao vivo do programa Pânico na TV. Segundo o superintendente, a emissora não pretende firmar um modelo de negócios para essa plataforma.

Fonte: Portal da Comunicação

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