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18 de set. de 2010

13ª entrevista da série 'Jornalistas de Mato Grosso: o que pensam?'

‘A mídia deturpa a questão indígena’, lamenta Peruare


Por Keka Werneck

O que um curumim como outro qualquer vai ser quando crescer? Alguns de nós
poderíamos responder: caçador. Outros diriam apenas: índio. Ou ainda: pajé,
cacique...
O bakairi Vitor Peruare, 59 anos, formou-se jornalista. Futuro bastante
improvável...Ele, que está entre os poucos jornalistas brasileiros índios, nasceu na Área Indígena Marechal Rondon, município de
Paranatinga, a 411 quilômetros de Cuiabá, para onde veio, em 1967, como
representante de seu povo.
Por conta de nossos preconceitos, mais difícil ainda seria apostarmos que um curumim
seria, um dia, doutor. Especializado em Artes Visuais e Cultura Indígena, Vitor é doutorando.
Casou, desquitou e agora vive com uma
companheira. Tem três casais de filhos com a primeira mulher, todos
formados.
Como jornalista, o bakairi espera estar mais próximo de seu povo
e interferir na forma deturpada, que, segundo ele, a mídia mostra os demais
povos indígenas.

A questão indígena aparece nos jornais? De que forma?

Sim... O índio aparece de forma exótica, às vezes como vilão e, na maioria das vezes, a questão indígena é deturpada. Nunca se busca a razão do acontecido, denigrindo a imagem de um povo que luta constatemente na defesa de seu território e direitos.

Você resolveu fazer jornalismo por que?

Fiz jornalismo por acaso. Sou documentarista e trabalhava como vídeomaker, produzindo vídeos para uma ong indígenista, o Centro de Trabalho Indigenista (CTI), onde fiz parte do projeto piloto do Programa de Índio na TVE/UFMT. Como jornalista, tenho muito a fazer, defender, informar, denunciar e estar cada vez mais próximo do meu povo.

Por que os índios querem estudar em faculdades?

Para administrar melhor suas riquezas naturais, substituir não-indígenas em todas as áreas de trabalho, principalmente na área de saúde, onde temos maior dificuldade de compreensão.

Você é a favor da obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo?

Sim... Sou a favor da obrigatoriedade. Só assim é que o setor de comunicação pode e deve se organizar, pelo que vejo é a único setor bagunçado. Enquanto médicos e odontológos expulsam piratas e só aceitam quem é credenciado...Nós também podemos fazer isso!!!

Entre matar e morrer, você fica com qual opção?

Ninguém é eterno nesse mundo, tudo tem seu tempo. Por exemplo, para se defender o jornalista mata denunciando e não devemos ser omissos com as coisas erradas.

Descreva a raiva. Você sente raiva pelo que?

Odeio mentira... Ontem mesmo passei por mais uma etapa dessas malandragens indígenas, com insinuação de criação de uma federação sem discutir com ninguém. Tem índio mala aqui em Cuiabá.

Qual a melhor matéria que você já fez e era sobre o que?

Sobre meu povo Bakairi, e rodou Brasil inteiro no blog da TVC, Rio
de Janeiro, que falava da saída dos meus avós do Xingu. Foi um sucesso
e emocionante.

Você acha que pessoas de origens diferentes, família, raça, etnia, religião, podem se amar e ter uma relação sadia?


Sim... Tudo faz parte sentimental do ser humano. As nossas índias foram um exemplo na época da conquista.

Você defende a união homossexual?

Não!!! A minha cultura não permite...

Você se identifica com a luta de algum coletivo, além do indígena? Qual?

A minha luta é constante pelo coletivo e igualdade para meu povo. Tenho pouca atuação em outra segmentos, mas sinto que os outros problemas podem ser sanados rapidamente ao contrário dos problemas dos índios, que são muito graves.

Como você entende o alcoolismo?

Entendo como um mau vício, destruidor da saúde humana... e não traz nenhum progresso...

Já presenciou cena de infração aos direitos humanos? Se sim, o que fez?

Já presenciei várias, por sinal horríveis!!! Tive que me posicionar como tal, para que de fato o direito humano seja respeitado.

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