Por *keka Werneck
Até o final do ano passado, quando alguém falava em Egito, aqui no Brasil e talvez em muitos lugares do mundo, o que vinha à cabeça? Pirâmides, faraós mumificados, Cleópatra, rio Nilo e hieróglifos.Talvez poucos se lembrassem ao menos que o Egito fica ao Norte do continente africano, na chamada África branca, embora no Egito haja diversidade étnica, mas é fato que predomina a herança européia.A surpreendente revolta popular que sacudiu o Cairo - capital do Egito - abrindo 2011 e se estendendo até os dias atuais, manda um aviso incômodo aos governantes do mundo todo: em qualquer regime, são os povos que elevam e tiram do poder quem bem entendem.Para o status quo, o perigo egípcio de agora vai mais além da queda do ditador Hosni Mubarak, há 30 anos no poder. O problema é que manifestações podem se espalhar e já estão inspirando trabalhadores não só daquela região, mas também de outras partes do mundo.“O Cairo é aqui!” – reivindicam trabalhadores do Estado norte-americano de Wisconsin. Na Revolta de Wisconsin, que tem sido comparada com a do Egito, o que os trabalhadores querem é que o governador republicano eleito em novembro de 2010, Scott Walker, já apelidado de "Mubarak do Midwest", não elimine direitos dos funcionários públicos, que querem negociar os termos dos seus contratos. Essa revolta é uma das mais significativas do sindicalismo nos Estados Unidos nas últimas décadas, mas é um assunto que tem sido pouco divulgado aqui.Afinal, é tudo muito longe da gente: Egito, Líbia, Tunísia, Wisconsin...E há um enorme risco em simplificar essas realidades para entendê-las a toque de caixa.Talvez o mais importante seja compreender que o sistema econômico internacional está de fato em colapso, as populações não suportam mais a super-exploração e isso não é diferente em lugar nenhum.Mubarak não é um gestor ruim somente porque é ditador, mas porque, por ser ditador, não ouve os anseios populares e isso interfere na qualidade de vida das pessoas, empobrecidas, em um país que exibe poços de petróleo.Esse assunto foi debatido no último sábado, dia 26 de fevereiro, após palestra aberta do historiador Domingos Sávio, do Diretório Estadual do Partido dos Trabalhadores (PT). O diálogo foi promovido pela corrente O Trabalho, do PT, no Sindicato dos Bancários.“A gente não sabe nada sobre essa região porque na escola a gente só aprende sobre a história dos Estados Unidos e da Europa. Parece que o resto do mundo é só adorno”, disse o palestrante.Agora, o Egito se faz presente, protagonista, em nossa vida, nos telejornais, e não sabemos nada sobre a atual realidade desse país.Porém, para além da nossa ignorância geográfica e sociopolítica, vem do Cairo uma lição muito contemporânea e fácil de entender: é impossível mumificar o desejo de mudança, que alimenta corações aqui e acolá.Um dia a casa cai.
* Keka Werneck é jornalista em Cuiabá
Até o final do ano passado, quando alguém falava em Egito, aqui no Brasil e talvez em muitos lugares do mundo, o que vinha à cabeça? Pirâmides, faraós mumificados, Cleópatra, rio Nilo e hieróglifos.Talvez poucos se lembrassem ao menos que o Egito fica ao Norte do continente africano, na chamada África branca, embora no Egito haja diversidade étnica, mas é fato que predomina a herança européia.A surpreendente revolta popular que sacudiu o Cairo - capital do Egito - abrindo 2011 e se estendendo até os dias atuais, manda um aviso incômodo aos governantes do mundo todo: em qualquer regime, são os povos que elevam e tiram do poder quem bem entendem.Para o status quo, o perigo egípcio de agora vai mais além da queda do ditador Hosni Mubarak, há 30 anos no poder. O problema é que manifestações podem se espalhar e já estão inspirando trabalhadores não só daquela região, mas também de outras partes do mundo.“O Cairo é aqui!” – reivindicam trabalhadores do Estado norte-americano de Wisconsin. Na Revolta de Wisconsin, que tem sido comparada com a do Egito, o que os trabalhadores querem é que o governador republicano eleito em novembro de 2010, Scott Walker, já apelidado de "Mubarak do Midwest", não elimine direitos dos funcionários públicos, que querem negociar os termos dos seus contratos. Essa revolta é uma das mais significativas do sindicalismo nos Estados Unidos nas últimas décadas, mas é um assunto que tem sido pouco divulgado aqui.Afinal, é tudo muito longe da gente: Egito, Líbia, Tunísia, Wisconsin...E há um enorme risco em simplificar essas realidades para entendê-las a toque de caixa.Talvez o mais importante seja compreender que o sistema econômico internacional está de fato em colapso, as populações não suportam mais a super-exploração e isso não é diferente em lugar nenhum.Mubarak não é um gestor ruim somente porque é ditador, mas porque, por ser ditador, não ouve os anseios populares e isso interfere na qualidade de vida das pessoas, empobrecidas, em um país que exibe poços de petróleo.Esse assunto foi debatido no último sábado, dia 26 de fevereiro, após palestra aberta do historiador Domingos Sávio, do Diretório Estadual do Partido dos Trabalhadores (PT). O diálogo foi promovido pela corrente O Trabalho, do PT, no Sindicato dos Bancários.“A gente não sabe nada sobre essa região porque na escola a gente só aprende sobre a história dos Estados Unidos e da Europa. Parece que o resto do mundo é só adorno”, disse o palestrante.Agora, o Egito se faz presente, protagonista, em nossa vida, nos telejornais, e não sabemos nada sobre a atual realidade desse país.Porém, para além da nossa ignorância geográfica e sociopolítica, vem do Cairo uma lição muito contemporânea e fácil de entender: é impossível mumificar o desejo de mudança, que alimenta corações aqui e acolá.Um dia a casa cai.
* Keka Werneck é jornalista em Cuiabá
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