Por Madiano Marcheti*
Não faz muito tempo li uma notícia na internet que me pôs em estado de inquietude. Até que ponto nós temos controle da nossa privacidade?
A notícia era sobre a guerra travada pelos gigantes Google e Facebook na disputa pelo mercado e pelos contatos nas redes sociais. Na ocasião, o Google decidiu bloquear a sincronização de contatos entre o Android (plataforma móvel do site de busca) e a rede social Facebook. Recentemente vi outra notícia sobre o assunto, porém desta vez tratava da disputa entre as mesmas empresas em realizar investimentos no microblog Twitter.
As duas notas citadas acima são típicas da sociedade capitalista em que vivemos. Até aí tudo “normal”. O fato é que enquanto os gigantes brigam por supremacia no mercado, as pessoas que se arriscam na vida interativa online acabam caindo em destinos marcados: Google e também Facebook. Email, canal de vídeo, blog, rede social, álbum fotográfico online... Em algum momento nos rendemos aos gigantes.
Acontece que ao aceitarmos participar desse jogo virtual que simula a realidade estamos fazendo uma troca: a possibilidade de ressaltar a individualidade e se firmar identitariamente em troca da nossa privacidade.
Aparentemente o mundo virtual nos parece anárquico e impossível de ser controlado. No entanto, depois de analisar o impasse das empresas Google e Facebook, percebi que a conquista da internet como um espaço de reafirmação ou criação identitária pode não passar de uma pseudoconquista. Já que ao aderirmos à redes sociais, por exemplo, estamos nos privando de privacidade.
Dá-se como uma relação de permuta, no sentido que para usarmos a internet como alternativa aos meios de comunicação tradicionais, em que muito provavelmente não teríamos oportunidade de expor nossas ideias, ressaltando assim nossa individualidade, temos em contrapartida que fornecer nossos dados (parte da nossa individualidade) às empresas criadoras de tais ferramentas sociais. Além disso, há aquelas pessoas que, na tentativa de ressaltar a individualidade, acabam relatando a rotina da vida em páginas online, se expondo ainda mais ao mundo e a essas empresas.
Em um ambiente livre, democrático, característico da internet, existem empresas que sabem nossos nomes, nossas datas de nascimento, nossas conversas, nossas fotos, onde e como moramos, nossas senhas, nossos hábitos, enfim, têm acesso a uma gama de informações que não muito tempo atrás era de acesso restrito e particular, transpondo nossa privacidade e sendo informadas de nossa individualidade sem que percebamos imediatamente isso. O pior é que tudo funciona de forma fluida e aparentemente inocente.
Não quero ser apocalíptico, mas o advento da internet ainda é muito recente, ainda mais no Brasil, e essa entrega total e expositiva ao extremo a esse meio de comunicação pode ser uma grande armadilha. A liberdade é infringida no ato da exigência de contrapartida das empresas controladoras das ferramentas mais utilizadas na web.
É evidente que ninguém é obrigado a aderir diretamente a essas condições, basta não entrar no mundo virtual dessa maneira. No entanto, pensemos: Já não basta o monopólio das comunicações, por exemplo, no Brasil, onde poucos grupos de pessoas, famílias mais precisamente, possuem as concessões de Rádio e Televisão?
O meu maior temor é que o caráter de “desterritorialização”, intrínseco do ciberespaço devido as possibilidades de mobilidade, fluxo e desenraizamento, possibilitado pela internet possa um dia passar a ser de “territorialização”, no qual há tentativa de ordenamento do espaço, a partir do momento em que alguém é “dono” deste.
É preciso lutar para a democratização da internet enquanto possibilidade de acesso a todas as pessoas, mais rapidez, uma banda larga que faça jus ao conceito e outros tantos problemas. No entanto, em um futuro talvez não distante, não quero ter que lutar pela democratização de espaço virtual dentro do meio mais democrático que existe!
*Madiano Marcheti é estudante de Cinema na PUC-RJ.
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