O resultado da última reunião entre patrões e jornalistas no Ministério Público do Trabalho (MPT) todo mundo já sabe: não houve acordo e o Sindjor vai a dissídio. Agora o que a categoria não sabe é a nova tentativa dos patrões de dividir os jornalistas entre os do interior e os da Capital, coisa que tinham tentado durante todas as rodadas de negociação, sem sucesso, pois o Sindjor, respaldado pela decisão das Assembléias Gerais, definiu piso único e ponto. Por esse motivo negou submeter o interior ao isolamento.
Passada a fase das rodadas de negociação, estamos nos preparando para o processo na Justiça do Trabalho, o dissídio, eis a surpresa: nessa terça-feira (24) o advogado do Sindjor, Francisco Faiad, foi procurado pelos representantes dos patrões, com uma proposta ‘melhorada’ das quatro empresas acionadas pelo Sindicato, por serem as maiores e balizarem o mercado: A Gazeta, TVCA, Diário de Cuiabá e Folha do Estado.
A proposta dos patrões para fechar acordo e deixar a Justiça fora do caso: o valor proposto (inferior inclusive ao que eles pagam ao contratarem), de R$ 1.200,00 para Capital e R$ 950,00 para o interior, passaria a ser de R$ 1.300,00 para a Capital e R$ 1.100,00 para o interior. Faiad então procurou a presidente do Sindjor, keka Werneck, que argumentou que se eles podem melhorar os valores tanto para Capital quanto para o interior, então pela lógica, podem chegar ao piso único de R$ 1.250,00. Ledo engano, para eles o piso tem que ser diferenciada e para piorar ainda mais, por esses valores os jornalistas e repórteres cinematográficos devem dirigir o carro da reportagem, fato que já ocorre, mas de forma irregular (preparem as máquinas fotográficas e celulares, se verem algum jornalista dirigindo carro da empresa, registrem e denunciem!!!).
Mas se estivermos indo para a pauta e furar um pneu? Temos que trocar. Se nos envolvermos em algum acidente? Pagamos os prejuízos. Se formos multado? Pagamos as multas e somamos alguns pontinhos na carteira de habilitação, pois como diz o diretor da TVCA, Zilmar Melate, “se eu pago as minhas multas, porque repórter não vai pagar?”... e olha que a frase foi dita em plena rodada de negociação do MPT, na presença da procuradora do MPT, Eleiney Bezerra.
Ah! Já ia me esquecendo. Temos que fazer tudo isso, mas não podemos perder a pauta, senão é demissão por justa causa... Aliás, a TVCA adora demitir por justa causa, vou contar um caso sem citar nomes, já que não pedi permissão ao colega. Um repórter cinematográfico, que trabalhava há nove anos na TVCA foi pressionado a dirigir o carro da reportagem durante sua escala de trabalho, com muita coragem e dignidade disse não, pouco tempo depois foi demitido por justa causa.
Descontente com a injustiça sofrida recorreu a Justiça do Trabalho e conseguiu reverter o resultado. Teve todos seus direitos trabalhistas garantidos, agora processa a Globo de Mato Grosso e com fé em Deus e na Justiça do homem ganhará....(e ainda vem o advogado da TVCA, Fernando Mancini, dando de ‘dedada’ na cara dos jornalistas, dentro da sala de audiências do MPT, dizer que na TVCA não existe pressão. Se demissão não for pressão o que será que para esse nobre homem da lei é pressão... é para ri né?).
Voltando ao ponto principal desse texto: a divisão da categoria.... Para mim está muito claro, os patrões tentam rachar um grupo que está começando a se reorganizar, que ficou anos sem mobilização e sem fazer suas lutas trabalhistas. Não se enganem colegas, se não reivindicarmos o que nos é garantido pela Lei, ficaremos sem nossos direitos tão dificilmente conquistados por trabalhadores anteriores a nós, se é que já não estamos passando por isso... ficaremos sem um piso fixado legalmente, sem reajuste de salário anual, sem direito a horas extras, sem férias, sem salários em dia e sem chances de melhorar as nossas condições de trabalho e do mercado de trabalho de uma forma geral. E por outro lado, ficaremos assistindo de boca aberta as empresas crescendo a cada ano que passa, expandindo seus negócios, vendo seus representantes trocando de carro de luxos, viajado para o exterior, enquanto os trabalhadores não têm dinheiro nem para o aluguel ou para pegar o ônibus para ir ao trabalho.
Os patrões não querem uma categoria forte... e quanto mais puderem nos impedir de pensar como grupo, como trabalhadores, mais eles farão. Nós é que temos que ter a visão de que a união fortalece as nossas lutas... e como o bolso sempre pesa, a tentativa de romper com esse movimento teve foco certo: o salário inicial.
A TVCA, defensora maior dessa diferenciação de piso entre o interior e a Capital, tem apresentado argumentos fracos. Eles dizem que para trazer os repórteres do interior, que estão se destacando lá, precisam incentivar de alguma forma, e para eles o piso diferenciado seria esse ‘incentivo’. Fraco porque, piso é o mínimo que o profissional deve receber pelas cinco horas trabalhadas e não pode servir como base para incentivar ‘promoções’, se eles querem incentivar que aumentem o salário, paguem a mudança, façam o que quiserem e puderem, o problema é deles.
Outro argumento dado pela TVCA, é que para o repórter mudar de domicílio a empresa é obrigada a aumentar em 25% o salário do transferido. Realmente, a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), diz no parágrafo terceiro “Em caso de necessidade de serviço o empregador poderá transferir o empregado para localidade diversa da que resultar do contrato, não obstante as restrições do artigo anterior, mas, nesse caso, ficará obrigado a um pagamento suplementar, nunca inferior a 25% (vinte e cinco por cento) dos salários que o empregado percebia naquela localidade, enquanto durar essa situação”.
Entretanto, corre a boca miúda, que muitos dos transferidos, submetem-se a prática da empresa de burlar a Lei, e para ter a chance de virem para a Capital, aceitam ser demitidos e serem contratados novamente na Capital, e o salário oh!
A minha esperança nessa campanha salarial foi reacendida com a fala da procuradora do MPT, Eleiney, durante a última reunião com os patrões. “Os senhores não acreditam que o juiz não fará a distinção dos trabalhadores do interior e da Capital, já que normalmente quando se fixa piso é para toda a categoria?”.
Alcione dos Anjos, é jornalista e secretária geral em exercício do Sindjor-MT
4 comentários:
Alcione, parabéns pela clareza de pensamento. Você demonstra que assumiu um papel que para nós parecia tão difícil de se encaixar com a tarefa de trabalhar e fazer parte do "mercado". Está tão engajada que me emociona e me faz pensar em por que estou tão afasta das coisas que me indigninam tanto!
Parabéns a todos da Diretoria do Sindicato pela maturidade e vontade de fazer diferente!!!
Não sou anônimo! Sou a Márcia Oliveira. kkkk
Nossa! Estou pasma com tanta mesquinharia por parte dos patrões. Espírito de empreendedorismo e equipe, passou longe do que muitas empresas gabaritadas tem adotado em seu meio para continuar se despontando como a empresa 10. E pelo que podemos perceber esta realidade, nos meios de comunicação, só na outra.....
Lendo este artigo, realmente chegamos a um ponto que a profissão jornalista, na ótica dos 'empresários' do setor, é limitada e da era do coronealismo. Bom, que eu saiba estamos em pleno século 21 e muito me espanta termos pessoas extremamente desumanas.
Por não ser uma profissão de elite, acredito que esta também seja mais uma visão dos ‘empresários’, que se acham no direito de colocar na senzala um grupo detentor de caráter, fibra, poder, informação e inteligência.
O trabalho dignifica o homem, bem como, uma boa renda também. O salário é nada mais que a remuneração de um bom trabalho prestado. Será que os donos, diretores, gerentes, subs... não estão sendo remunerados pela tal função?
Realmente, diante de tanta afronta, temos que arregaçar nossas mangas e partir para mais uma batalha. Saibam colegas que nós somos um exército diante de um alvo (os donos), nós somos a MASSA. Não podemos admitir tanta ironia. Somos JORNALISTAS sim! Com muito orgulho.
A Esperança faz fortalecer o espírito do homem, não devemos desistir nunca.
Flávia Porfirio
"O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons".
(Martin Luther King)
Infelizmente, estão todos ocupados demais com as próprias vidas e dilemas para se indignar. A indignação é um primeiro passo.
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