parabéns pelo seu artigo. Concordo com você e, em muitos pontos, faço das suas as minhas palavras.
Sempre digo que quem escolhe ser jornalista não é uma pessoa preocupada em ganhar dinheiro. E, pela experiência própria que tenho, abraçar essa profissão é quase um sacerdócio. E é preciso muito mais do que amor para 'ralar' quase 30 anos nela, como é o meu caso.
Além do acúmulo de cargos, da falta de respeito dos patrões para com os empregados (principalmente de alguns ex-jornalistas que viram empresários e terminam explorando os coleguinhas tanto ou mais do que quando eles eram explorados, temos que também ceder às leis trabalhistas que cada vez mais ganham um caráter empresarial contra o trabalhador, sem se falar no assédio moral que esse sofre dos seus superiores, na maioria das vezes, jornalistas em cargos de chefia).
Eu, como membro (será, ainda? pelo menos, deveria, mas estou em falta) da diretoria do Sindicato dos Jornalistas de Mato Grosso, sei o tanto que é difícil para a nossa entidade representativa desempenhar sua função em favor de uma categoria cada vez mais desunida. Temos contra a nossa luta, o desinteresse dos próprios jornalistas que nem percebem o tanto que os patrões estão desarticulando os nossos movimentos por melhores salários e condições de trabalho. A maioria dos nossos colegas nem têm consciência de que, assim, não cumprem, com eles mesmos, o principal papel da imprensa que é o de mostrar e, principalmente, o de questionar esse tipo de situação e reagir contra, fortalecendo o Sindicato dos Jornalistas que, atualmente, luta com dificuldades para pelo menos conscientizar a categoria a lutar por si mesma, mas mal consegue dar mais do que uma orientação 'jurídica' ao profissional que está enfrentando dificuldades junto à empresa na qual trabalha.
A desarticulação do nosso movimento de luta, nem passa necessariamente, em minha opinião, pela diferença de salários para quem exerce a mesma função dentro de uma redação, tanto quanto pelo fato das empresas adotarem a tática de também, no caso dos salários atrasados, pagarem em primeiro lugar os que trabalham em setores estratégicos para o funcionamento da empresa (gráficos e editores, por exemplo, enfraquecendo toda e qualquer ação contra o atraso salarial, já bem debilitada por um mercado cada vez mais inchado de profissionais, fator esse que, em minha opinião baseada na lei da oferta e da procura, é o que realmente está "precarizando" a profissão.
Afinal de contas, somos ou não somos formadores (ou será de-formadores) de opinão?
Eu, ao contrário de você, participei ativamente de todos os movimentos grevistas dos jornalistas de Mato Grosso nos últimos 30 anos. E, em se tratando de você, não poderia ser diferente, porque em alguns desses momentos seu pai e sua mãe, provavelmente, nem se conheciam.
Conquistamos um dos maiores pisos salariais da América Latina. Desbravamos caminhos para que hoje o mercado da comunicação mato-grossense criasse tantas vagas para o setor. Lutas anteriores nos deram direito à aposentadoria especial, que a categoria - hoje, com sua maioria composta de jornalistas formados - perdeu recentemente. Naquela época, conquistamos também legalmente a jornada reduzida de 5 horas, que poucas categorias conquistaram nesse país e os 'graduados' em comunicação já estão perdendo, de fato e não de direito (ainda), se sujeitando a receber por 8 ou mais horas trabalhadas, o que poderiam ganhar legalmente em cinco horas.
E nem todos éramos jornalistas graduados, como é o meu caso. O diploma para jornalistas não era uma exigência para o exercício da profissão, o que não significa que estou ilegalmente atuando na área e muito menos que seja favorável à queda dessa exigência, como já se posicionou Gilmar Mendes, segundo você mesma cita no seu artigo.
Se for somar o tempo que tenho de faculdade, todas na UFMT, ganho de muitos coleguinhas formados em termos de tempo de sala-de-aula numa universidade: quatro de direito, dois de enfermagem e agora, mais um semestre no curso de Ciências Sociais e Políticas. Mas, o mercado hoje, está exigindo o Diploma de Graduado em jornalismo para contratar, mesmo que Gilmar Mendes diga que ele não é necessário no caso da nossa profissão.
E, digo mais, se você tem só o diploma, comece a correr atrás do mestrado e do doutorado, se desejar ganhar um pouco melhor e se antecipar ao futuro. Porque, se hoje volto aos bancos escolares atrás do canudo que nunca precisei, aproveitando para abrir a minha visão sobre o mundo por meio do curso de Ciências Sociais e Ciência Política, buscando atender a uma exigência de mercado cada vez mais excludente, amanhã, será a sua de correr atrás do PHD para recuperar o prejuízo de não ter se preocupado com isso quando a juventude lhe facilita a vida.
Portanto, na minha opinião, independentemente de Gilmar Mendes, da Fenaj e do Sindjor, o mercado vai continuar cada vez mais exigindo uma graduação superior dos seus trabalhadores, o que está me fazendo agora, depois de velha, quase aposentada, correr atrás de um canudo e, mais do que isso, ampliar o meu leque de conhecimentos para que eu possa, cada vez mais, escrever com propriedade e informação, razão pela qual busquei um curso capaz de ampliar ilimitadamente os meus conhecimentos sobre a sociedade e os homens que a formam.
E, aqui, faço uma crítica severa ao seu artigo, principalmente quando diz que aqueles que não "estudaram a ética jornalística nos bancos da faculdade estão mais suscetíveis a distorcer as informações ao sabor da 'linha política editorial' a qual o grupo de comunicação está ligada". Bem, não estudei e nem vou estudar ética jornalística, porque não vou fazer um curso de Comunicação Social nessa altura da minha vida, desencantada que estou com a profissão. Até mesmo, porque, sou capaz de bater a maioria dos formados em qualquer concurso público para preenchimento de vagas na nossa profissão. E venho dando aulas práticas de jornalismo (e principalmente de redação) para colegas recém-formados, que reclamam de estarem sendo mal preparados pelas universidades de Comunicação.
Durante a minha longa caminhada nessa profissão, vi foi muita mais gente graduada do que não graduada em comunicação fazendo isso. Portanto, considero infeliz e preconceituoso o seu comentário, pois, ética e moral a gente aprende no berço e há no mundo os que os tem e os que não os tem, mesmo que esses últimos venham enfeitados com vários pós-doutorados e diplomas nas mais diversas áreas.
Eu, não sou graduada em Comunicação Social, é verdade. Mas sou respeitada pelos colegas e quem conhece meu trabalho sabe da minha competência e seriedade como profissional de Comunicação. Nunca me sujeitei a trabalhar por migalhas e, recentemente, deixei bons cargos porque não concordo com salários atrasados e cansei de ser uma voz solitária dentro das redações repletas de jornalistas recém-formados - ou ainda nem isso - dispostos a se firmarem no mercado, alguns a qualquer preço, que, exatamente por isso, estão sendo usados contra qualquer mobilização da própria categoria.
Lamentável!
Eu tenho quase 30 anos de profissão, sem ter sido nunca uma unanimidade e muitas vezes tendo sido considerada polêmica, mas nunca enfrentei nenhum processo por escrever reportagens tendenciosas, com erros de informações, com falsas informações ou seja lá o que motivar o leitor a acionar um profissional da imprensa judicialmente. E não tenho diploma. Meu pai foi jornalista por mais de 60 anos, não é formado e, também, nunca foi processado, apesar dos seus artigos polêmicos e de ele ter sido editor dos principais jornais de Cuiabá, alguns, como o Correio da Imprensa, no qual também trabalhei, bem combativo contra a Ditadura Militar, que essa sua geração não conheceu.
Nem nunca, eu ou meu pai, usamos das ‘comodidades’ que você fala que a profissão lhe confere, pois, diante de qualquer autoridade, sempre fui uma profissional fazendo o meu papel de buscar a informação para os meus leitores, sempre fazendo o meu papel de cidadã.
Como jornalista, ao escrevermos um artigo ou reportagens, precisou tomar um imenso cuidado com as palavras. Elas são poderosas e podem nos levar a más interpretações que podem arruinar vidas e dificultar caminhadas, principalmente a nossa. E isso, não necessariamente só em nossas reportagens. Também, no dia-a-dia. Foi o que aconteceu em gestões passadas da Diretoria do Sindicato dos Jornalistas que, numa campanha em favor da exigência do diploma de jornalistas, terminou usando termos que ofenderam jornalistas não diplomados. Resultado: a atual diretoria comandada pelas valentes e destemidas guerreiras sindicais Keka, Márcia e Alcione, teve que dar duro para pagar a indenização e custos da ação resultante da sentença desfavorável ao Sindicato.
Nunca acreditei também nessa história de reportagem neutra. Isso não existe! Toda a reportagem, por mais isenta que seja, não é neutra, trazendo sempre uma tendência de favorecer esse ou aquele lado, pois, quem escreve é uma pessoa e não um computador e ninguém é completamente neutro em qualquer coisa nessa vida, principalmente o jornalista apaixonado pelo que faz e pela verdade que defende. Uma reportagem comentada – ou editorialista - é menos perigosa do que as informações manipuladas que constam em uma reportagem aparentemente ‘neutra’ que ‘mancheta’ um jornal. Eu sei, você sabe e nós sabemos que, para isso, basta dar mais espaço para quem nos agrada mais, ou ao dono da empresa jornalista que denominamos de ‘linha editorial’ e é o que mais acontece em qualquer lugar, não necessariamente apenas em Mato Grosso.
Para chegar até aqui, só eu sei as esquinas nas quais penei...
Um grande abraço de quem é ‘geneticamente’ jornalista.
Laura Lucena
2 comentários:
Oi laura, é verdade o que vc falou. Generalizei muito e desta forma acabei sendo injusta nas ponderações. Mas sei que vc compreendeu que a mensagem principal é de valorizar a nossa profissão. A ética depende mesmo do caráter de cada um independente do "banco da faculdade", porém, achei muito importante estudá-la por isso inseri no artigo. Sei também que a competência não depende só do diploma, mas eu quis me referir a pessoas que se aproveitam do jornalismo e das oportunidades que ele pode oferecer. Você sabe que muitos utilizam o jornalismo para extorquir autoridades. Laura, sei que vc passa longe dos exemplos que citei. Beijos e obrigada pela contribuição.
Muito bom seu texto Laura! Gostei muito das suas colocações. Beijos
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