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10 de mar. de 2011

14ª entrevista da série “Jornalistas de Mato grosso: o que pensam?”

‘Os meios de comunicação são sonhos construídos pelos donos das empresas’, opina Margareth Botelho


Entre os jornalistas, ela é conhecida pelo pulso firme.

A goiana Margareth Botelho Fernandes, 50 anos, veio para Cuiabá já formada em jornalismo pela Universidade Federal de Goiás (UFG), em 1984, com proposta de trabalho para a TV Centro América, afiliada da Rede Globo, selecionada pelo diretor de Jornalismo da época, Lúcio Sorge. “Havia um grupo de jornalistas de Goiânia já trabalhando aqui e a informação era de que o mercado tinha oportunidades, diferente da crise que atingia Goiás”, lembra a veterana. Margareth é especialista em Radiojornalismo, Marketing em Política, Assessoria de Imprensa e em Planejamento e Operação de Sites. A jornalista sempre participa dos congressos da Associação Nacional de Jornais (ANJ) que, a cada ano, trata de um tema relacionado ao jornalismo impresso pelo viés patronal.

Para ela, a maturidade permite à mulher que assuma sem culpa escolhas de vida sem "dar a mínima aos outros que, nos julgam, sem ao menos nos conhecer".

Margareth é casada e mãe de três filhos: Dandhara, 24, Brunno, 21, e Paola, 13. É com eles que gosta de gastar as horas vagas.

Leia a entrevista.


Por Keka Werneck


Que preço o jornalismo cobra após 10 anos de profissão? E após 20 anos?
O preço que se paga vem logo após a formatura ou quando você vai para uma redação fazer estágio. Formei em 1982 e na minha época o estágio era curricular. A primeira ferida aberta é saber que o Jornalismo não é uma profissional liberal e os sonhos que tivemos não serão realizados, pelo menos como imaginamos. Não há como mudar o mundo e, muito menos, revolucionar a comunicação. Escrever o que exatamente gostaríamos. Os meios de comunicação são sonhos construídos pelos donos das empresas e que, consequentemente, têm seus próprios sonhos de como fazer jornalismo. Com o passar do tempo, depois do choque inicial, você descobre que há sim como fazer o que se gosta e, aproveitando as brechas, abrir espaços para a sociedade organizada se manifestar e mesmo a população. Quando vim para cá, não se cobria nenhum movimento de trabalhador, por exemplo, greve de professores. Sobre a atuação parlamentar, falava-se só em projetos. E olha que era tempo dos "deputados pianistas" e no país estava em andamento o processo de redemocratização, com a volta das eleições diretas em todos os níveis. Pior é que a omissão não era veto de dono de empresa. Era falta de visão de um mercado composto por jornalistas que surgiam da noite para o dia e que focavam mais as coberturas oficiais. (OBS: deste tempo, é bom destacar, surgiram excelentes jornalistas formados "na marra"). E Mato Grosso tinha problemas gravíssimos, uma vastidão de temas para serem abordados, como a questão indígena - de saúde a ocupação de reservas; violência no campo e o embrionário movimento dos sem-terra, falta de infraestrutura - água e rede de esgoto -, saúde e atendimento médico precário, etc

O jornalismo deve ser exercido para que e para quem?
Deve servir ao cidadão, de uma forma ou de outra. Defendo o jornalismo voltado à comunidade. É dele que se tira lições de vida e onde a gente relata fatos muito relevantes que, ao leitor atento e seletivo, servirão para refletir mais que o jornalismo político ou de políticos. Se você mostra gente passando fome, gente desempregada, falta de posto de saúde, água encanada, escola, moradia, a mensagem tem uma amplitude além do que, num pensamento estreito, se imagina. Não basta ir muito longe na periferia, por exemplo, para constatar que a falácia dos governos em cima de políticas ditas afirmativas não funcionam, embora a propaganda oficial diga o contrário. O Bolsa Família, meramente assistencialista, é um deles. Joga-se no ar que milhares de família saíram da miséria por conta do benefício. Mentira! E para comprovar é só andar um pouco mais ou sair das redações.

Quais as melhores pautas?
Gosto de pautas das chamadas editorias de Cidades, que envolvam saúde, educação, violência, desemprego, falta de moradia, mas com o foco de onde nascem os problemas e não ficar em rankings. Se temos XX pessoas vivendo abaixo da linha de miséria, vamos in loco. Imagens e textos são eficientes para escancarar a verdade que vivemos.

No jornalismo, qual o maior susto que você levou?
O susto maior não foi de coberturas arriscadas, embora tenha feito algumas. Me espanta muito mais a postura dos jornalistas, a desunião da categoria, a arrogância de se colocarem como donos da verdade, julgando a todos e a tudo, sem o menor conhecimento da realidade ou histórico que seja.

Fofoca é jornalismo?
Não. Tudo que envolve vida pessoal é invasão de privacidade. Acho que o homem público em todo ambiente público está disponível aos fotógrafos e repórteres. Agora, dentro de casa, tem que ser preservado. Muita coisa hoje no jornalismo é fofoca porque não se checam as informações. Talvez seja um efeito até passageiro da internet, do bloguismo que intensificou a onda do "achismo".

Você é a favor da obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo?
Sim, porque é na Universidade que você aprende conceitos que vão muito além do saber escrever. Devemos todos lutar para que o ensino de 3º grau contemple todas as áreas. Devemos tentar impedir o avanço da indústria da educação, cujo lucro fez com que empresários investissem na formação profissional sem qualidade. O derrame de diplomas de escolas sem condições de ensinar já é sentido nas redações, falando do jornalismo especificamente.

Com que roupa a mulher jornalista deve ir para o trabalho?
No dia-a-dia, como se diz no popular, banho tomado e roupa limpa. Mas a TV exige uma imagem melhor, produção mínima, etc.

O que a mulher pode fazer depois dos 40 anos que antes não podia?
A maturidade nos dá de presente a serenidade, a solidariedade e uma grande lição de vida que passa pela paciência. Assim conquistamos a liberdade, a segurança e lucidez que nos permitem ser a gente mesmo, assumir sem culpa as nossas escolhas de vida e não dar a mínima aos outros que, nos julgam, sem ao menos nos conhecer.

O que não tem na educação escolar que você gostaria que tivesse?
Para mim, falta leitura, estímulo à leitura, interpretação. Hoje todas escolas ensinam a ler e não a leitura.

Deus existe? Ou é apenas mais uma forma de controle social?
Acho que existe de alguma forma. As religiões se encarregaram de fazer suas próprias interpretações e chegaram a esse controle social ao definir alguns conceitos e punições de uma maldade sem fim, como o pecado.

Você acha que devemos comer comidas naturais ou defende as chamadas "porcarias"?
Depende de cada um. Gosto mais de comida natural. A escolha dos olhos às vezes é irresistível, mas nós sabemos que a cada geração o ser humano fica mais exposto a doenças por conta dessas "porcarias".

O que você gosta de fazer nas horas vagas?
Principalmente sol e beira de rio, piscina e ficar em casa com meus filhos.

Você tratou um câncer. Esse assunto é um tabu? Ou posso perguntar de que forma você enfrentou isso? E o que você tem a dizer às pessoas sobre isso?
Não é tabu. Eu enfrentei na verdade dois, na mesma mama. Num período de 4 anos fiz 7 cirurgias - a última em julho deste ano. Claro que não esperava ficar doente. Ninguém espera, não é? No primeiro câncer me fechei. Enfrentei a doença trabalhando e com minha família principalmente. No segundo, como se diz, tirei de letra. Tornei pública a minha doença. Fiz até um artigo. Recebi muita solidariedade e agradeço a todos por isso. Fiquei mais forte e reagi muito melhor. O que me passava sempre na cabeça é que não podia morrer, não queria morrer! Meu desejo é ver os meus filhos crescerem, quero conhecer meus netos, etc. Então, o saldo foi positivo. Não me entreguei à doença e ainda tive oportunidade de amparar outras mulheres que tiveram suas mamas retiradas de forma tão grotesca que a cicatriz no corpo ficou tão pequena diante do estrago na alma.

3 comentários:

Anônimo disse...

Essa mulher, acima de tudo uma guerreira, não deve nada a ninguém, sou seu fã, fã de sua personalidade, de sua forma em lidar com as pessoas, fã de seus filhos, fã de seu amor.
Parabéns pela postura, ética e garra.
Te amo.
Edward Júnior.

vera disse...

Querida amiga. Tivemos oportunidade de conviver um tempo na afiliada do SBT Cuiabá.Minha admiração e carinho. Gostaria se possível receber um email particular para me comunicar com ela. Hoje moro em Minas Gerais.Vera Lucia Neves

Anônimo disse...

Realmente Margareth Botelho tem pulso firme, mas não pela arrogância e sim pela tranquilidade de comandar uma equipe de jornalistas. Fui estagiário de A Gazeta na época em que era diretora de redação e gostei muito seu jeito tranquilo de comandar.