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1 de set. de 2012

Elaine Tavares dá aula sobre reportagem e humanidade


Ficou difícil escrever qualquer coisa depois da passagem de um verdadeiro furacão chamado Elaine Tavares.  O corpo pequeno é visivelmente apertado para guardar dentro dele tantos questionamentos, tantos sentimentos, tanta humanidade... então, explode! Foi assim que a jornalista falou sobre reportagem e emocionou os participantes do Seminário Liberdade de Imprensa e Direitos da Personalidade, na manhã desta sexta-feira, 31 de agosto.

O contato com humanos desde a infância a transformou na profissional extremamente sensível que é. Pode parecer estranho dizer “o contato com humanos”, mas nos dias de hoje não são todas as pessoas que enxergam o próximo assim, como humanos - em especial jornalistas, que têm a obrigação de descrever histórias que envolvem humanos.

Traficantes, prostitutas, jogadores de futebol... o que todos eles têm em comum? São vidas. São humanos. E ela sempre soube enxerga-los assim, desde criança, quando nos intervalos das aulas no Rio Grande do Sul, ia até a beira do rio com os colegas e encontrava lá humanos, que por algum motivo a nossa sociedade tentava esconder. A verdade é que a jornalista, além de dar uma grande aula sobre o jornalismo, nos deu mesmo uma grande aula de humanidade.

Ao apresentar Enrique Dussel, teórico da filosofia da libertação, que a inspirou sobre um jornalismo também libertador, a jornalista afirma que “a única ética que existe é a da vida, e da vida da vítima”. Segundo ela, há apenas dois tipos de jornalismo: aquele que serve à maioria (oprimida), e aquele que serve à minoria (detentores do poder político e econômico). O jornalista, de maneira ou outra, vai servir a um desses lados, mesmo que acredite que não, porque não existe “imparcialidade” jornalística. O profissional da imprensa pode, sim, se abster de opiniões no decorrer do seu texto, mas a maneira como a história é contada favorece determinada perspectiva.

“Quando vocês abrem a torneira de manhã e sai água vocês não ficam estupefatos? Vocês não pensam em como tudo isso foi construído, quantas pessoas trabalharam para isso, o que elas passaram, de onde elas vieram?”, provocou a jornalista. “As pautas brotam o tempo todo na nossa frente”, diz,  mas é preciso sensibilidade para identifica-las. “A gente aprende a olhar, olhando! Não é incrível?”, brincou. É assim que ela enxerga a rede de energia elétrica, meios de transporte e tudo mais que foi construído pelo ser humano.

Assim, Elaine defende que é necessário, para a produção jornalística, o contato entre humanos. “Alguém acredita que é possível o chamado jornalismo assistido, feito pelo computador? Não!”. Para ela, a linguagem corporal é fundamental para que a informação seja apurada, de fato; para que, em suas palavras, o jornalista possa contar “as histórias”, enxergando mais do que um discurso oficial. Isso faz toda a diferença.

Quem observa a maneira explosiva da jornalista entende que essa é a demonstração da sua paixão pelo humano e também de toda a indignação pelas condições a que somos submetidos. E a força da fala vem acompanhada de sincera doçura. “Quando você faz uma reportagem com esse sentimento, você cria um laço amoroso com aquelas pessoas, que fica para sempre. Porque a gente se dá conta de que estamos mexendo com uma vida, a gente tem responsabilidade sobre ela, tem cuidado, porque a vida é como um cristal, se a gente quebrar, não cola mais”.

Durante toda a oficina, Elaine nos brindou com suas histórias, na busca desenfreada por outras histórias. Cada frase carregando imensa riqueza cultural, política e social dos lugares por onde andou. Quem não a ouviu, perdeu muito. Resta saber quem, dos presentes, teve sensibilidade para compreendê-la e, mais do que isso, entender que uma boa reportagem só é possível se o humano atrás da caneta conseguir tocar e ser tocado. 

Por Luana Soutos. 

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