"Queremos ser mais visíveis que nunca, através de nosso Rei, para que o mundo inteiro saiba fora de nossas fronteiras que a Bolívia não é um país somente de indígenas."
Uma paixão pela Bolívia, o conhecimento profundo da Comunidade Negra do Vale do Guaporé, em Mato Grosso, e uma inspiração que brotou das palavras da líder afroboliviana, Marta Inofuentes. Esses foram os ingredientes para o surgimento do Projeto Paralelo 15. Com o objetivo de mostrar um universo até então desconhecido para a maioria dos bolivianos e dos latino-americanos, o projeto inicia sua primeira etapa nesta sexta-feira, 25 de fevereiro.
"Queremos ser mais visíveis que nunca, através de nosso Rei, para que o mundo inteiro saiba fora de nossas fronteiras que a Bolívia não é um país somente de indígenas." O clamor de Marta Inofuentes serviu de estopim para que o fotógrafo Mário Friedlander, acreditasse na idéia que já vinha sendo plantada pelo seu amigo Luca Spinoza, jornalista Chileno, radicado na Bolívia. A partir daí, a idéia de apresentar ao mundo a comunidade Afroboliviana, fazendo um paralelo com a comunidade negra que vive no Vale do Guaporé, na divisa com a Bolívia, virou projeto e ganhou a adesão do guia de Ecoturismo e produtor cultural Hélio Caldas.
Nesta sexta-feira, Friedlander e Caldas, a bordo de um carro fechado com tração 4x4, iniciam a expedição rumo à região dos Yungas, localizada a aproximadamente 90 km a Leste de La Paz, capital boliviana. Em Santa Cruz de La Sierra, Luca Spinoza se junta aos expedicionários.
No primeiro trecho da expedição cultural, na região conhecida como Gran Chiquitania Boliviana, a equipe vai documentar algumas Missões Jesuíticas, transformadas em Patrimônio da Humanidade pela Unesco, também alguns aspectos da vida cotidiana de várias comunidades Chiquitanas localizadas ao longo do trajeto, e aspectos naturais do Bosque Seco Chiquitano, um rico ecossistema existente na Bolívia que começa a ser ameaçado principalmente pelas atividades agropecuárias e madeireiras dos Brasileiros que migram para esta região.
A expectativa é que a equipe enfrente alguns entraves burocráticos nas fronteiras, bem como problemas de infraestrura no transporte, pois a Bolívia enfrenta um período de chuvas muito intensas que bloqueiam inúmeras estradas principalmente na região a ser percorrida. Além disso, a Bolívia passa por um momento de agitação política, a exemplo da "Crise do Açúcar".
No entanto, apesar das dificuldades que possam vir a enfrentar, os membros do Projeto Paralelo 15 estão firmes no propósito de dar visibilidade aos Afrobolivianos que vivem na região dos Yungas, e representam cerca de 0,5 % da população daquele País. “Vila Bela da Santíssima Trindade (primeira capital mato-grossense, localizada no Vale do Guaporé) é uma pequena África dentro de Mato Grosso, está no Paralelo 15 e é fronteira com a Bolívia. Essas duas comunidades viveram isoladas por muito tempo e as origens são as mesmas. Então o que a gente pretende também é colocar as duas comunidades em contato”, explicou Friedlander.
Durante aproximadamente 30 dias a equipe vai documentar também os grupos culturais de Afrobolivianos no Carnaval de Oruro, a maior e mais importante manifestação cultural da Bolívia. O trajeto a ser percorrido nesta primeira é de aproximadamente 5 mil quilômetros. No percurso, a equipe vai enfrentar a célebre e perigosa “Estrada da Morte”, uma precária estrada de chão, com alto índice de acidentes, que dá acesso as comunidades negras da Bolívia.
A região dos Yungas está localizada nos vales subtropicais da Bolívia, numa região vizinha dos Andes. A estrada que dá acesso à região é considerada a mais sinuosa da Bolívia e por isso, a mais apreciada pelos turistas estrangeiros.
Esta primeira etapa, segundo Friedlander, servirá de base para o projeto, pois será o momento de estabelecer vínculo com a população e colher informações e registros fotográficos. O projeto prevê ainda mais três etapas, que resultarão em vários produtos finais, a exemplo de livros, exposições fotográficas e elaboração de relatórios.
A República Boliviana – Impressões e sensações
“A Bolívia é o Tibet da América e nós brasileiros a tratamos como os americanos tratam o México”, com essas comparações, o fotógrafo Mário Friedlander definiu a sua admiração pelo País vizinho e a sua decepção pela forma como ele é visto pela maioria da população brasileira.
O fotógrafo lamenta que muitos brasileiros ainda mantenham uma visão preconceituosa em relação à Bolívia. “A espiritualidade, o clima, a altitude da região, é um País maravilhoso, que mantém a sua origem indígena e é muito mais desenvolvido em alguns pontos do que nós brasileiros acreditamos. A população é extremamente politizada. Cada vez que volto à Bolívia eu reforço essa visão”, ressalta.
A paixão pela Bolívia teve início na década de 80, quando Mário Friedlander fez sua primeira viagem ao país vizinho. Das muitas experiências vividas e sensações experimentadas, Friedlander destaca as duas vezes em que percorreu a pé a rota que fará a bordo do veículo 4x4. Também conhecido como “El camino Del Taquesi”, é o caminho pré-colombiano mais preservado da Bolívia.
Além de toda grandiosidade e beleza da rota, que compreende aproximadamente 42 km, nas duas vezes o fotógrafo passou experiências marcantes. “Na primeira vez eu estava sozinho e me deparei com os vigilantes do narcotráfico. Na segunda-fez eu tive uma hipotermia porque estava sem roupas adequadas para a neve, só não morri porque meu colega, um europeu que possuía roupas apropriadas me socorreu”, contou.
Já em relação ao Vale do Guaporé, Mário fala com ainda mais propriedade. “Passei muitos anos em Vila Bela da Santíssima Trindade e desenvolvi um trabalho muito intenso nessa região”, finalizou.
Parcerias
“Não temos recursos, por isso precisamos de parceiros”. Essa é a realidade dos membros do Projeto Paralelo 15. Conscientes de que uma iniciativa dessa magnitude não se viabiliza sem parceiros que acreditem na sua importância e relevância social, a equipe tem conseguido apoios importantes tanto no Brasil quanto na Bolívia.
Essas parcerias podem ser conhecidas ao acessar o blog do projeto (www.projetoparaleloquinze.blogspot.com). Também através da página na Internet, é possível acompanhar todo desenvolvimento do projeto. A intenção dos expedicionários é alimentar as mídias digitais com notícias diárias a respeito dessa primeira viagem.
Para o Sindicato dos Jornalistas de Mato Grosso (Sindjor-MT), noticiar a realidade que o projeto pretende mostrar, através de textos e fotos, é mostrar a complexidade cultural da América Latina. “Pelo respeito às minorias, para potencializar a voz de todos e todas, em favor da cultura de todos os povos, o Sindjor se compromete a ajudar na divulgação desse projeto, de grande valor jornalístico e social”, declarou a direção da entidade.
Marta Inofuentes, líder afroboliviana
Marcia Raquel
Assessoria de Imprensa (Sindjor-MT)
Contatos e informações adicionais:Mário Friedlander - 9983-5728 e 3644-0367
e-mail: projetoparalelo15@gmail.com
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